Convergência e unidade<br> para resistir e avançar

Albano Nunes (Membro do Secretariado)

Sabemos que o partido da classe operária e de todos os trabalhadores não nasceu para resolver problemas fáceis. Com excepção da Revolução de Abril e dos períodos de afluxo da luta popular, o destino dos comunistas sempre foi o de remar contra a corrente em frontal oposição ao estado de coisas existente.

O PCP sempre combinou a sua afirmação com a procura da unidade

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Foi assim, nunca virando a cara a dificuldades nem claudicando perante golpes da repressão duríssimos, que o PCP pôde cumprir o seu papel de vanguarda e dar uma contribuição determinante para o derrube do fascismo e para a profunda transformação revolucionária da sociedade portuguesa. E é assim que o PCP se posiciona hoje frente à violenta ofensiva do grande capital e na luta por uma alternativa patriótica e de esquerda.

A necessidade e a urgência de interromper e derrotar a política da direita nunca foi tão grande como hoje, quando grandes perigos pesam sobre a independência de Portugal e o próprio regime democrático. A par do alargamento e intensificação da luta popular impõe-se a convergência de todos os democratas e patriotas para inverter o rumo de empobrecimento e destruição conduzido pelo Governo do PSD/CDS, convergência em que o PCP se encontra profundamente empenhado, apresentando as suas próprias propostas, apoiando iniciativas de conteúdo realmente unitário e rejeitando o foguetório de movimentações ditas de «unidade de esquerda» marcadas pela ambiguidade e o oportunismo, que geram confusão, frustram expectativas, atrasam a construção da alternativa indispensável à solução dos graves problemas nacionais.

A alternativa só o será realmente se der expressão ao movimento de massas que se desenvolve por todo o País. Se rejeitar frontalmente o pacto de agressão, qualquer que seja a designação ou forma que venha a tomar depois de 17 de Maio. Se romper com mais de 37 anos de políticas de direita e com a submissão ao imperialismo que a participação no processo de integração capitalista europeia significa para Portugal. Se defender intransigentemente a Constituição que, apesar de sucessivas revisões mutiladoras, continua fiel aos valores de Abril indispensáveis à construção de um Portugal com futuro. Alternativa necessária e possível, mas que não será nunca resultado de um qualquer «click» salvador, de arranjos de circunstância, de precipitados desarrincanços em tempo de eleições ou na perspectiva delas, de patéticas sedes de protagonismo, de laboriosas construções que tanto branqueiam as responsabilidades do PS na dramática situação do País, como excluem o PCP.

O Partido da unidade

Ninguém mais do que o PCP é favorável à convergência de esforços para impedir que a política de revanche social e vingança de classe conduza à destruição do muito que subsiste da Revolução de Abril. A construção da alternativa é uma tarefa muito complexa e eventualmente demorada, pois as alianças que se estabelecem no plano social não encontram correspondência no plano político. Trata-se de um problema que só o próprio desenvolvimento da luta popular poderá resolver e que, em qualquer caso, é inseparável do reforço do PCP.

O PCP sempre foi o «Partido da unidade». Da Liga contra a Guerra e o Fascismo ao MUNAF, ao MUD e à FPLN; da Oposição Democrática à aliança Povo/MFA; da acção persistente, após o 25 de Abril, para impedir a divisão das forças democráticas à luta actual pela cooperação de todos os democratas e patriotas, o PCP nunca deixou de combinar a sua tarefa central de afirmação do Partido com a procura da unidade no plano político. Mas uma unidade assente nos valores de Abril, para resistir e para avançar, não para retroceder e claudicar, como gostariam aqueles que ignoram e escondem as propostas do PCP e o acusam de sectarismo e mesmo de responsável pelo que chamam de «falta de unidade da Esquerda».

Pela sua longa experiência de unidade na acção e para a acção, o PCP sabe bem que a construção de uma sólida cooperação de todos os democratas e patriotas, além de persistência, exige diálogo e compromisso. Mas sabe também que quanto mais forte for o Partido e mais sólida a aliança com os seus companheiros da CDU, maior será a possibilidade de promover uma cooperação ainda mais ampla e influente . Daí também a grande importância do empenho de cada organização e de cada membro do Partido em alargar os apoios à CDU na perspectiva das eleições para o Parlamento Europeu e para mobilizar em torno das comemorações do 40.º aniversário da Revolução de Abril muitos democratas e patriotas independentes, dando assim mais força a uma política alternativa patriótica e de esquerda.

 



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